19 de abril de 2018

Soldado Milhões.


   Para compensar o mau filme de ontem, cinema português, e do bom cinema que por cá se faz. Baseado, porque mais do que inspirado, na história verídica do soldado raso Aníbal Milhais, que combateu na Flandres ao lado dos Aliados, com o restante Corpo Expedicionário Português, Soldado Milhões faz, em jeito de retrospectiva, uma viagem pelos conturbados tempos em que Milhais serviu o país nas mais duras condições, com os demais soldados, opondo-se a que o considerassem um herói por reconhecer que todos o foram, todos os que morreram por Portugal na I Guerra Mundial, sobretudo na Batalha de La Lys, a mais sangrenta, e que Galvão Teles procurou recriar com todo o esmero.

  As interpretações são bastante razoáveis. O cenário de guerra foi bem conseguido, e imagino que não tenha sido fácil. Conhecemos as carências e as insuficiências do cinema português. O realizador soube, por forma a contrabalançar os momentos tensos com a guerra, trazer a doçura de Milhais com a filha, mostrando-nos como é possível a um homem que tudo vivenciou, e que passou pelo stress pós-traumático mais avassalador, ser terno e doce, presente e preocupado. A guerra não dilacerou o carácter de Milhais; pelo contrário, realçou a sua heroicidade e rectidão.
  Milhais destacou-se no conflito pela parte portuguesa, tendo enfrentado os alemães sozinho, a determinado momento, permitindo que os colegas escapassem. Recebeu a mais alta condecoração portuguesa e quase todas as honras em vida. O nome da sua terra, Valongo, passou, em sua homenagem, a Valongo de Milhais. Nascido Milhais, morreu Milhões, em 1970, com 74 anos. O filme que agora estreia honra a sua memória.

4 comentários:

  1. As poucas produções portuguesas que tive chance de assistir me causaram muito boa impressão, bem melhores que as nossas aqui.

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