5 de setembro de 2011

Os dias de sabor agreste.


O sabor de cada dia final surge-me como o pior de todos. Má sorte a minha e conseguiria suportar tudo num estado de maior resignação. O sangue corre-me nas veias a velocidade de cruzeiro, quente, latejando interminavelmente num reflexo sentido como um nó no peito. Não quero o sabor do fim. No fundo, rejeito o reinício como uma etapa insuportável, dolorosa, angustiante.

Queria ser como todos e gosto de ser como nenhum. Sentir-se-ão indiferentes. Vivem no vácuo de uma existência em que nada é refletido. Um novo amanhã não terá mais de novo do que o inesperado. Será igual a hoje, pensarão, como foi igual a ontem. A mim, o amanhã é mais do que poderei suportar. Fundei bases no hoje que se perpetuaria, mau grado não ter esse poder, para sempre.

Se dissesse que anseio os rostos, mentiria. Mentiria como quando dissimulo mal um sorriso, os vários que, porventura, esboço ao longo daquelas horas. Ah, rejeito-vos não vos querendo rejeitar, encaro-vos desejando a última vez. Como gostaria de ser sensível às sucessivas presenças; como gostaria de ansiar o momento expectável. Sinto-me frio sem o ser, talvez apático, mas também sinto a dor que não sentem e isso poderá explicar este alheamento genético.

A porta mágica que não surge quando deveria. A luz que não ilumina quanto baste. A dimensão nunca antes vista, inalcançável. Derrota. Os passos pesados e a vida maquinada. Igual a tantas, igual a todas. Resíduo do que senti, sinto e sentirei: não sou igual a ninguém.



7 comentários:

  1. hum.. profundo mark :) olha continuo a gostar muito dos teus textos mesmo depois de ter estado de férias. É chegar e ler isto ficamos assim, pronto xD
    abc

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  2. É tão bom ser diferente!
    Por isso, sorri :)

    Que essas diferenças provoquem muitos sorrisos.

    Abraço.

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  3. Tomás: Obrigado. :)

    Paulo: Espero bem que sim. :) Obrigado!

    Abraços aos dois. ^^

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  4. O meu comentário ao teu texto anterior, aplica-se aqui, na perfeição.

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  5. Oh Mark... como eu gostava de... mas temos-te a ti e é um grande prazer para todos.

    Abraço

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  6. Pinguim: Obrigado. :)

    Eu: Gostavas de ... ? :) Obrigado, é um prazer também. ^^

    Abraços aos dois.

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  7. "Resíduo do que senti, sinto e sentirei: não sou igual a ninguém."

    Permite-me dizer: ainda bem!

    És perfeito sendo como és!

    Já sabemos que ninguém é perfeito, nem mesmo aquele a quem chamamos Deus.

    No entanto, a nossa perfeição reside nessa imperfeição que nos torna únicos!

    :3

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