4 de março de 2011

Sentes a Diferença?


Há bastante tempo que não falo do R. aqui, provavelmente porque não há muito para dizer. Ele continua lá na vidinha dele e eu na minha. Somos colegas como dantes, nesse aspeto nada mudou. No outro dia ficámos a estudar na biblioteca com mais uma colega, continuamos a almoçar juntos quando se proporciona, continuo a sentar-me ao seu lado nas aulas, enfim, não deixei de fazer absolutamente nada do que fazia.
Da sua parte noto alguma aproximação, talvez como reação à minha indiferença. Quando me refiro a indiferença, falo especificamente de uma atenção que lhe despendia e que retirei. Digamos que se tratava de uma inclinação natural para si. Ele notou, claro, assim como notou quando deixei de lhe dar atenção e passei a tratá-lo como qualquer colega rapaz.
Hoje, num dos intervalos, viu-me a comer qualquer coisa a meio da manhã e perguntou se podia sentar-se na minha mesa. Sentou-se e, aproveitando que estávamos sozinhos, perguntou-me se «andava chateado com ele», ao que eu respondi prontamente que «não». Lá avançou na conversa, dizendo que tinha reparado que eu já não era «o mesmo», que o evitava em determinadas situações, que já não brincava tanto consigo, etc. Não tive quaisquer problemas em perguntar-lhe qual era o modo que ele achava que eu deveria utilizar para me comportar com ele. Ele percebeu perfeitamente o cariz da minha pergunta e toda a mensagem implícita que lhe estava subjacente. Tive essa confirmação na expressão do seu rosto. Entretanto chegou uma amiga minha e a conversa extinguiu-se automaticamente. Ele continuou na mesa a brincar com o guardanapeiro nas mãos, mas a cabeça estava baixa e a expressão mantinha-se pensativa e distante. Ficámos os três na mesa até à hora da aula. Eu e a minha amiga falámos daquelas conversas típicas que não agradam a homens heterossexuais (roupa, moda, dietas, praia, etc) e ele continuava sentado à nossa frente, de pernas abertas, com os pés de fora e ligeiramente afundado na cadeira (tem mesmo aquele sentar masculino). Por vezes erguia a cabeça e olhava sorrateiramente para mim, como se estivesse a meditar sobre algo, mas nada nos disse para além de alguns acenos e de umas expressões enfadonhas.
Nada fiz com o propósito de chamar a sua atenção, todavia, foi ele que se deu conta de que agira mal comigo e foi isso que o levou a abordar-me daquela forma.
Há males que vêm por bem.

8 comentários:

  1. Gostei imenso do texto. Acho que fazes muito bem em deixar de lhe dar aquela atenção... pode ser que ele perceba que não agiu bem, não é?
    Fizeste muito bem!
    Beijinhos e espero que as coisas entre vocês se acertem..

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  2. Como eu te apoio. Acho que dar-lhes assim um pouquinho para trás não faz mal a ninguém, só faz com que eles se sintam mal e se aproximem mais.

    Abraço

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  3. Acho que também já está na altura desse menino fazer alguma coisa pela vida e decidir-se. Mas espero que continuem amigos, às vezes com o desinteresse sexual pode haver um afastamento, mas vocês até têm uma boa amizade, que ao menos isso não se perca.

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  4. Acho que fazes bem em dar-lhe para trás, rapazes há muitos e bem melhores que ele.

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  5. ele gosta da tua atenção. Mais importante, ele sentiu falta dela. Se fosse um rapaz hetero, completamente alheio a ti, não teria a preocupação de saber o que se passa e de te procurar. Sabemos bem como as pessoas podem ser más-línguas...

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  6. está atento às suas reacções...
    indiferente mas atento porque uma amizade não se desperdiça.

    abraço.

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  7. Se essa tua amiga não tivesse aparecido, a conversa poderia ter ido mais além! E, provavelmente, muita coisa teria ficado esclarecida!
    Agora é esperar pela reacção dele, mas imagino que as coisas devem ter ficado mais claras, pelo que será um momento de definições!
    Boa sorte!

    Abraço,
    Ikki

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