8 de setembro de 2010

Pela Avenida Há Vida...



O pai voltou ontem de viagem. Desde o divórcio, em 2006, o pai afastou-se um pouco de mim. A sua vida profissional agitada, o facto de viver longe e, até recentemente, a má relação com a mãe, levaram-no a tomar um outro rumo. O pai sempre foi um grande amigo. É um dos homens mais compreensivos que conheço. Porém, com a separação, houve um afastamento gradual. Estamos menos tempo juntos, saímos poucas vezes e até algumas datas importantes têm passado em branco.
Ontem, no entanto, recebi um convite para lanchar hoje de tarde. Fiquei feliz porque há imenso tempo que não lanchava com o pai. Foi buscar-me a casa por volta das quatro da tarde e levou-me a uma pastelaria no centro da cidade. Notei que ele estava constrangido. Bebia a sua cerveja sem álcool de forma tensa. A xícara do chá também balançava na minha mão nervosa. De forma imprevista, começámos a falar dos estudos, das férias, dos projectos para o futuro, enfim, de tudo. A pastelaria era ampla e fresca. Parecia que o tempo só passava do lado de fora. A luz, opaca devido à densidade e às características do vidro, entrava subtilmente por entre as cadeiras e as mesas de madeira, iluminando o vidro do balcão de forma resplandecente. Dei por mim a mexer bastante na minha franja do cabelo, atitude que revela sem hesitações o meu estado emocional. 
Depois de terminado o lanche, passeámos pela Avenida da Liberdade. Eu adoro esta zona da cidade, contrariamente a muitos que veneram a Baixa ou a zona mais oriental. Falámos enquanto descíamos em direcção aos Restauradores. Foi um momento mágico para mim. Vimos um casal estrangeiro, gay, a descer a avenida. Também passou um rapaz gay que quase embatia num banco de tanto olhar para mim. O pai não notou. Vimos um casal, ela portuguesa, ele africano, com um bebé mulato. Um velhinho a dormir num banco de jardim. Polícias a fiscalizarem a avenida, trabalhadores que restauram um prédio... Lisboa é diferente por ser assim tão global. Ainda tivemos tempo de ir ao antigo Parque Mayer, outrora novo e concorrido, hoje abandonado e praticamente em ruínas. Como tudo o que é antigo e tem história me fascina, o mesmo sucedeu com o Parque Mayer. De regresso, subimos novamente a avenida.
Fizemos o caminho de volta até à minha casa. Demos um beijo de despedida e o pai fez questão de me ver entrar. Preferi vê-lo partir no carro.
Tenho saudades de quando ele estava com a mãe. Dos momentos felizes que vivemos. Contudo, compreendo que a vida tomou um rumo oposto ao pretendido. Podemos ser felizes como dantes, com as devidas alterações.
São momentos como este que marcam para sempre a nossa memória.

1 comentário:

  1. O importante é aproveitarem os momentos que têm para matar saudades. Ele quer fazer parte da tua vida, parece-me. Tens de o fazer sentir-se sempre bem-vindo

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